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Foto do escritorTewa 225

Como os brasileiros devem entender o novo relatório do IPCC?

No ano de 1988, foi criado o IPCC- Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima, com o apoio da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Sua criação tinha como objetivo estruturar documentos técnicos sobre os impactos e relevantes riscos em relação às mudanças climáticas, e divulgá-los abertamente. Seu reconhecimento internacional veio em 2009, com Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho relevante.


O IPCC tem como característica dominante a divulgação de informações já existentes, ou seja, não produz estudos primários sobre questões climáticas, e sim, utiliza de estudos, pesquisas e documentos já existentes, criando um compilado de informações globais sobre o tema. O documento lançado é produzido por cientistas renomados da academia que se dedicam a formatação e estruturação do produto final.


Esse ano, a divulgação do último documento (sexto relatório global) de trabalho veio acompanhado de tensões internacionais. O atual secretário das Nações Unidas, António Guterres, se pronunciou sobre as conclusões do relatório, apresentando sua completa insatisfação com os resultados expostos:


“O júri chegou a um veredicto. E é condenatório. Este relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas é uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas. É um arquivo da vergonha, catalogando as promessas vazias que nos colocam firmemente no caminho para um mundo inabitável” (António Guterres, secretário geral da ONU)


O documento vem sendo construído desde Agosto de 2021, com o lançamento do primeiro grupo de trabalho: Climate Change 2021: The Physical Science Basis e terá sua consolidação final em Setembro de 2022. Porém, com a divulgação do último grupo de trabalho: Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change, já conseguimos captar mensagens imprescindíveis para os próximos anos.


Em relação ao aumento da emissão de gases de efeito estufa, o relatório reportou recorde na emissão na última década. De acordo com os dados divulgados, no ano de 2019 foram emitidos 59 bilhões de toneladas, valor que é 12% maior que em 2010, ano em que o Acordo de Paris (2015), ainda não existia. Considerando o prometido pelos países através do acordo, é metrizado no relatório que para atingirmos as metas de emissões globais de efeito estufa e o equilíbrio em relação a temperatura global (mantendo-a em 1,5oC acima dos níveis pré-industriais) é necessário a queda de 43% nas emissões até o ano de 2030, ou seja, nos próximos 8 anos. O que se percebe hoje, no entanto, é o oposto: o crescimento das emissões.


Considerando as metas internacionais de controle climático, o IPCC também expõe que já foi emitido 80% de todo o gás carbônico que a humanidade poderia emitir para estabilizar o aquecimento da Terra no período. A queda da produção industrial de carbono, de acordo com o relatório, foi de 0,3% na última década, sendo o ideal 7,7% de queda ao ano, uma previsão sobre as políticas públicas de mitigação que, se não alteradas, podem levar ao aquecimento da terra em 3,2oC.


O alarme global sobre as mudanças climáticas representam o impacto da negligência sobre os acordos internacionais. A crítica do secretário geral da ONU aponta que o caminho adotado pelos países é, novamente, uma tentativa de conciliação dos interesses do capital econômico global à conservação. Porém a noção de desenvolvimento sustentável como algo que equilibra o crescimento contínuo sem alterar o modelo de desenvolvimento, já se provou algo inalcançável (e o relatório reforça isso). “Líderes precisam liderar”, afirmou o secretário, contemplando o fato de que há escolhas politicamente indigestas e necessárias que precisam ser adotadas urgentemente e, no caso brasileiro, em um ano eleitoral, é nosso compromisso observar quais futuros líderes estão comprometidos com agendas climáticas sólidas.

O ponto-chave da discussão é que pessoas e países irão sentir de maneiras diferentes os riscos que o aumento das emissões:


"O número de populações brasileiras que são sensíveis aos impactos da mudança climática é alto e pode ocasionar em migrações significativas. Só dos 281 municípios defrontantes ao mar no Brasil, 33% possuem vulnerabilidade alta ou muito alta a eventos extremos. Isso representa quase 6 milhões de pessoas, segundo IBGE" (Cibele Lima, geógrafa PHD em mudanças climáticas e analista de dados na Tewá 225)


Já acordado no acordo de Paris, os países necessitam reconhecer a necessidade de diferentes posturas frente ao seu discurso e ação em prol das mudanças climáticas. No Brasil, estamos vindo de anos de retrocesso, em que a redução do desmatamento e das emissões, ora alcançada, agora fazem parte do passado. A substituição do modelo predatório de desenvolvimento econômico é, senão a maior, uma das mais importantes pautas para ouvirmos os candidatos à presidência em 2022.

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